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O que é "pathos"?

Atualizado: 1 de ago. de 2023


Pathos ("πάθος" em grego) significa "o que se experimenta", "o que afeta a alma" ou "aflição". Na argumentação, "pathos" é uma das três formas distintas de persuasão identificadas por Aristóteles. Significa convencer por meio da emoção. O objetivo do uso do pathos é complementar os argumentos racionais, construindo uma argumentação psicológica impactante.


Como convencer através do pathos?


Aristóteles admitia o uso das paixões na retórica, desde que aplicadas de maneira apropriada na argumentação. O argumento não deveria ser simplesmente "tal fato causa uma emoção, logo é ruim", mas o orador deveria apresentar fatos ou explicações que despertam as emoções desejadas na proporção adequada.


O pathos pode ser evocado por meio de diversas formas, como storytelling, imagens vívidas, anedotas pessoais, linguagem forte e apelos a valores compartilhados ou experiências humanas comuns.


O filósofo listou quatorze emoções aplicáveis, organizadas em seis pares: ira e calma; amizade e inimizade; medo e confiança; vergonha e desvergonha; amabilidade e indelicadeza; piedade e indignação; inveja e emulação.


Ira e Calma


A ira (orgé) é descrita como um desejo acompanhado de dor, que incita a plateia a buscar vingança. Essa emoção deve ser habilmente manipulada pelo orador para direcioná-la a um alvo específico. A calma (praótes), por sua vez, representa a pacificação da cólera. Essa emoção pode ser utilizada quando o alvo da ira reconhece seus erros e é punido pela justiça, de modo que o ato de assumir a responsabilidade possa mitigar a ira.


Amizade e Inimizade


A amizade (philia) parte de uma ideia de amor em relação a outras pessoas e é uma via de mão dupla. Para Aristóteles, amigos são pessoas que se amam reciprocamente e também possuem gostos em comum. Já a inimizade (éktra) é um sentimento que surge da ira, do vexame ou da calúnia. Dessa forma, o orador deve conhecer sua plateia e identificar qual sentimento é adequado para alimentar em seu discurso.


Medo e Confiança


O medo (phobos), segundo Aristóteles, é resultado da representação de um mal iminente. É importante ressaltar que essa representação não precisa ser um mal iminente real, basta ser percebida como tal. A confiança (thársos), por outro lado, não é provocada diretamente por uma representação, mas indiretamente, sendo a expectativa de que o mal não é iminente, que está distante de acontecer.


Vergonha e Desvergonha


A vergonha (aiskhyne) refere-se a qualquer vício passado, presente ou futuro que possa levar a pessoa à perda de reputação ou desonra. A desvergonha (anaiskhyntia) seria a indiferença a qualquer vício que possa desonrar o indivíduo.


Amabilidade e Indelicadeza


A amabilidade (kháris) é um serviço prestado a alguém necessitado, com o único objetivo de beneficiar o necessitado. Em relação à indelicadeza, Aristóteles não apresenta uma definição direta, como fez para as outras emoções, mas interpreta-se que seja quando um serviço é prestado em troca de algum benefício pessoal.


Compaixão e Indignação


A compaixão (eleos), segundo Aristóteles, é uma dor atual ou iminente causada por um mal destrutivo ou penoso, que atinge alguém que não merece. A indignação (némesis) também é uma emoção relacionada a algo imerecido, mas é relativa a um êxito ou felicidade alcançada sem o devido merecimento.


Inveja e Emulação


A inveja (zelos) consiste em uma emoção sentida contra semelhantes que alcançam um sucesso visível ou que estão próximos de alcançar o que desejam. A emulação (khataphónesis) é o desconforto sentido pela presença "evidente de bens valiosos que podemos adquirir em competição com nossos semelhantes, não porque esses bens pertençam a eles, mas porque não nos pertencem".


Como elaborar uma estratégia persuasiva “pathos” forte?


Aqui estão três dicas para elaborar um discurso utilizando o pathos:

  1. Conheça seu público-alvo: Antes de elaborar o discurso, é crucial conhecer a audiência a quem você se dirigirá. Compreender suas emoções, valores, preocupações e experiências ajudará você a escolher os elementos emocionais mais eficazes para envolvê-los.

  2. Use histórias e exemplos emocionalmente envolventes. Ao incluir narrativas envolventes, você pode conectar-se emocionalmente com seu público e fazer com que se identifiquem com as situações ou personagens apresentados. Use descrições detalhadas, cenas vívidas e elementos sensoriais para evocar as emoções desejadas.

  3. Escolha a linguagem e o tom adequados: O tom da sua voz, expressão facial e gestos influenciam a maneira como suas palavras são recebidas. Ajuste-os de acordo com a emoção que você está buscando. Use uma linguagem evocativa e recursos retóricos que amplifiquem a emoção que você deseja transmitir.

Lembre-se de que o uso do pathos deve ser ético e autêntico, visando estabelecer uma conexão emocional genuína com o público.


Para aprender mais sobre pathos:





NASCIMENTO, Joelson Santos. A relação entre lógica, pathos e ethos na Arte Retórica de Aristóteles. Anais de Filosofia Clássica, [s. l], v. 9, n. 17, p. 38-60, jun. 2015. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/FilosofiaClassica/article/view/1431. Acesso em: 30 jul. 2021.


ARISTÓTELES. Retórica. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2005.


COSTA, Judenice Alves da. O conceito e a caracterização de pathos na Retórica de Aristóteles. 2015. 176 f. Dissertação (Doutorado) - Curso de Filosofia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-A3BHG6. Acesso em: 01 ago. 2021.


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